Edvard Munch - Casa en claro de luna (1895)
A noite é sempre a melhor hora. Perguntas a razão, não o devias fazer.
Basta que perguntes a finalidade. Há uma altura que nenhuma razão é razão de
coisa alguma, que nenhum porquê pode obter resposta. Não, a noite não me
esconde a tua pele, os teus olhos cansados que, de os ver, os meus se cansaram.
A noite não opera metamorfoses na tua voz e eu não oiço um anjo a cantar.
Aliás, os anjos já não cantam, nunca cantaram, e os sinos que ouvíamos eram um
ludíbrio que a noite nos oferecia. Para quê, então? Para pegar em mim e deixar
que o veludo negro me envolva para não mais voltar.
Muito gostei desta micronarrativa, Jorge. Esta tua experiência está revelar-se muito interessante. Claro que a noite é sempre a melhor hora, pode não operar metamorfoses, mas que transfigura, lá isso transfigura. De noite, todas as vozes são pardas. Até as dos anjos.
ResponderEliminarMuito obrigado, Ivone. Isto de escrever estas micronarrativas e outras coisas do blogue tem uma função existencial: distrai-me daquilo que tenho o dever de fazer. É uma espécie de álibi, embora não haja juiz que acredite no álibi.
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