A minha crónica semanal no Jornal Torrejano.
O general Ramalho Eanes, em entrevista à Antena 1, toca num dos
aspectos mais sensíveis da área da governação, as Forças Armadas. O antigo
Presidente da República sublinha que o país tem de definir se quer ter ou não
Forças Armadas, e se sim para quê. A questão centra-se no problema do
financiamento. O tema é dos que suscita mais ressentimento e um dos que se
presta a equívocos absurdos.
Só por leviandade se pode pensar que Portugal pode viver sem Forças
Armadas. Um dos argumentos contra a existência das Forças Armadas centra-se no
facto de Portugal estar na União Europeia e de não possuir inimigos; mesmo as
antigas pretensões anexionistas espanholas teriam passado à história. Tudo isto
é verdade, mas não justifica a tese do fim das Forças Armadas.
Em primeiro lugar, a própria União Europeia está a ser atravessada por
convulsões que podem conduzir à ruptura e à divisão. A partir desse momento uma
nova guerra intra-europeia ou anti-europeia torna-se possível, se não mesmo
provável. Vão longe os dias em que a União Europeia era um lugar de paz e
estabilidade. Hoje tornou-se um palco de afirmação de pequenas potências, como
a Alemanha, que ainda acalentam pretensões – ilusórias, claro – a ter uma papel
decisivo na geoestratégia global.
Em segundo lugar, Portugal não tem apenas uma fronteira com Espanha.
Tem uma outra com o mundo muçulmano. Neste momento são boas as relações de
Portugal com o norte de África, mas não sabemos durante quanto tempo isso
continuará a ser possível. Nada garante que em Marrocos ou na Argélia a
situação política não se deteriore e não surjam regimes políticos extremistas
que tenham pretensões de destabilizar a Península Ibérica. Há movimentos no
mundo muçulmano que reivindicam a Península Ibérica como território islâmico.
Hoje são minoritários, mas a História muda.
Em terceiro lugar, nada garante que as actuais relações com Espanha se
mantenham. Uma desintegração da União Europeia conjugada com movimentos
nacionalistas no País Basco, Catalunha e Galiza pode criar condições para que,
em Castela – parece ridículo, mas a História é o que é –, despontem movimentos
anexionistas e a ideia de uma grande Ibéria sob a batuta do exército espanhol. Em História, o que é hoje verdade pode não o
ser amanhã.
As Forças Armadas são uma instituição fundamental para Portugal. Para
tal, é necessário que estejam integradas em sistemas de defesa colectivos, como
a NATO, e que o país faça o esforço económico que isso impõe. Não brinquemos
com coisas sérias, a crise não justifica todos os disparates.
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