Possuo uma razão hormonal. Quando era novo, ansiava a revolução, um
grande orgasmo colectivo, certamente na sequência de um dionisíaco gang bang, um exercício de destruição,
para que a razão, triunfante na balbúrdia dos corpos esmagados, trouxesse um
radioso clarear da madrugada. Durou pouco essa atracção pelo colectivo e pelas
infelizes metáforas (de facto, verdadeiras catacreses) que a sua adoração
impunha. Com o decorrer do tempo, tornei-me conservador. O vigor hormonal
ia sendo outro e o exercício da memória crescia como uma sombra ao entardecer. Ser
conservador é um acto de piedade para com o passado, uma forma de ser beato sem
ir à missa, nem ter que confessar os pobres pecadilhos em que a vida nos
enrola.
O desejo do futuro, comandado por Eros,
ou o amor pelo passado, uma infusão de Agaph,
não passam – em mim, é bom nunca generalizar – de variações químicas provocadas
pelo desconcerto hormonal. O meu problema – e o da minha razão hormonal – é que
descobri agora, certamente por desatenção anterior, que a realidade não se
compadece com o ritmo e o equilíbrio das minhas hormonas. Conserva e muda
conforme lhe apetece, segundo ritmos hormonais próprios e inescrutáveis. A minha vontade de rasgar o futuro ou de solidificar o
passado não passa de uma presunção irracional de um idiota que, como todos os
idiotas, se tem em demasiada boa conta.
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