A minha crónica semanal no Jornal Torrejano.
Existem muitas causas que ajudam a explicar a situação na qual
vivemos. Excesso de consumo, esbanjamento de recursos, investimentos
desadequados, corrupção política, eleitoralismo, problemas de formação, baixa
produtividade, etc. Se quisermos compreender não apenas a superfície da
situação mas aquilo que permitiu o acumular dos erros, teremos de encontrar
outro tipo de explicações. Que atitudes estão na base de tudo isto?
Em primeiro lugar, a ausência de espírito crítico. A sociedade
portuguesa é avessa à discussão crítica, ao confronto de ideias, ao conflito de
pontos de vista. Na vida das instituições (públicas e privadas) o exercício
crítico, o debate de ideias, o conflito sobre os caminhos a tomar praticamente
não existem. As instituições portuguesas são verdadeiros túmulos. O silêncio é
de ouro e quem ambiciona subir, ou apenas deseja não ser enxotado porta fora,
não levanta ondas. Não levantar ondas é o ideal regulador da acção do português.
Isto implica que empresas privadas e instituições públicas definhem.
Os erros acumulam-se, constituem-se em hábitos, formam verdadeiras tradições. O
silêncio que as chefias, por uma questão de autodefesa, cultivam e a que as
pessoas, também por autodefesa, se submetem significa uma demissão de pensar e
uma ausência efectiva de compromisso com a instituição. Num mundo em que a
economia se fundamenta no conhecimento, em Portugal cultiva-se o silêncio das
igrejas e a paz dos cemitérios.
Em segundo lugar, e em conexão com a ausência de pensamento crítico,
temos lideranças frágeis. Se as pessoas não são levadas a pensar criticamente,
como forma de melhorar o desempenho da instituição ou da empresa a que
pertencem, isso está intimamente ligado à qualidade das lideranças.
Genericamente, Portugal não tem líderes, mas chefes que têm medo da discussão,
do debate e do confronto de ideias. As chefias em Portugal vivem no terror de
que a sua incapacidade se torne óbvia e, por isso, não só evitam suscitar
qualquer tipo de pensamento crítico dentro do seu feudo, como o reprimem, caso
ele surja. Não percebem que o papel de uma liderança é tirar partido, para a
organização, do conflito de ideias, dos pontos de vista descentrados e
desviantes.
A péssima preparação técnica das lideranças destrói a imaginação, exclui
o pensamento crítico e afoga empresas e instituições na pura rotina até que se
tornem obsoletas e um peso morto para a sociedade, a qual lentamente se foi
tornando ela própria um enorme peso morto.
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