A minha crónica semanal no Jornal Torrejano.
As notícias que correm sobre os possíveis aumentos trimestrais de
electricidade em Portugal explicam amplamente a razão por que os portugueses
são avessos ao liberalismo. Aquilo que diz a doutrina liberal – a liberalização
e a concorrência conduzem à diminuição dos preços – sofre, no nosso país, de
uma excepção irremediável. Sempre que um determinado serviço, ainda nas mãos do
Estado, vai ser privatizado e o mercado liberalizado, a primeira coisa que
pensamos é que vamos pagar mais por piores serviços.
Na prática, em muitos dos sectores liberalizados não há efectiva
concorrência. Por vezes, apesar de existir mercado livre e um conjunto
suficiente de operadores, o que acontece é que os preços são tão semelhantes
que a atitude mais racional para escolher o prestador de serviços não é estudar
a relação serviços prestados/preço praticado, mas fazer rifas com o nome das
empresas e escolher aquela que nos sair em sorte.
No centro da Europa, a liberalização de certos sectores faz sentido,
pois existe verdadeira concorrência num mercado com dimensão suficiente para
essa concorrência. Em Portugal, a privatização e a liberalização serve apenas
para criar uma espécie de monopólio, mais ou menos disfarçado, que suga os
indígenas e distribui, a esses verdadeiros empresários sem risco, uma renda
escandalosa. A única coisa que parece estar sujeita às leis do mercado, no
nosso país, é a mão-de-obra. A concorrência é tanta, o desemprego é tal, que o
trabalho está em contínua desvalorização.
A lógica da economia portuguesa é deveras interessante. Tudo está
organizado de forma a que as pessoas ganhem cada vez menos e paguem cada vez
mais pelos serviços essenciais à sua existência. Neste momento, as elites
económicas e políticas da pátria estão empenhadíssimas a tratar a população como
o espanhol tratou o cavalo. Há que emagrecer. Emagrecer significa ganhar cada
vez menos e pagar cada vez mais.
Segundo consta, as coisas correm bem. Os portugueses não protestam
pelo emagrecimento a que estão a ser submetidos. Colaboram e, vaidosos, desejam
ardentemente fazer dieta. Sacrificam-se para estar na linha e permitir aos nossos pobres empresários, aqueles que
são avessos e inimigos do risco, lucros fabulosos para poderem ir, os pobres,
ao ginásio e também eles manterem a linha. Quando os portugueses tiverem
aprendido a não comer, as nossas elites rejubilarão. Não sei se alguém já
pensou no resultado da aplicação da história do cavalo do espanhol à economia
portuguesa.
Ah, o dono do cavalo era espanhol...? Cá para as minhas bandas fala-se no 'cavalo do inglês' (e ainda ontem, lá no meu canto, falei nisso).
ResponderEliminarPor via das dúvidas, daqui para a frente vou falar no cavalo do alemão.
Por aqui sempre ouvi que o cavalo era do espanhol. Parece que há várias versões. Inclusive a do burro do espanhol. Portanto, cada um serve-se da que estiver mais à mão.
Eliminar