sexta-feira, 23 de março de 2012

Patologias sociais


Tornou-se uma doença. Governar parece ser, nos dias de hoje, um exercício contínuo de uma patologia. O governo acha por bem perder tempo com ideias luminosas como a de dar o nome de empresas privadas às lojas do cidadão. Isto não é um exercício inocente, o que mostra que a patologia é um caso de saúde pública. Nas lojas do cidadão tratam-se de assuntos que estão relacionados com o nosso estatuto cívico. Elas são uma emanação da comunidade feita por intermédio do aparelho de decisão dessa comunidade, o Estado. O Estado não deve, em qualquer circunstância, ser confundido com os indivíduos e os interesses privados. Esta peregrina ideia - que visaria, segundo a notícia, arrebanhar 400 mil euros anuais, uma insignificância - é sintomática do que esta gente entende pela separação do Estado e dos interesses privados. A colonização da esfera pública pelo mundo dos interesses privados, a transformação da presença do Estado e do serviço público em suporte publicitário, representam mais uma tentativa para privatizar o próprio Estado. O que está em jogo não é uma mera loja do cidadão. O que está em jogo é, por razões económicas - e estas nunca faltarão - mas essencialmente ideológicas, começar por uma loja do cidadão e, fruto de tanta imaginação, amanhã passarmos a patrocinar os tribunais, as forças armadas ou os quartéis de polícia, para não falar das escolas públicas ou dos hospitais, se ainda os houver. O fim lógico desta patologia - fim que já está inscrito nesta pequena semente, uma verdadeira ideia seminal, dirão os adeptos da seita - é a privatização completa de tudo o que diz respeito ao bem comum, onde se incluirão, por certo e num futuro que a seita desejará cada vez mais próximo, as funções de soberania: defesa, segurança e exercício do poder, seja o jurídico, seja o legislativo ou o executivo. 

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