quinta-feira, 8 de março de 2012

A partícula de Deus e o financiamento


O bosão de Higgs é, por enquanto, uma mera ideia teórica, derivada da necessidade, segundo o modelo padrão da física de partículas, da existência de uma partícula que desse massa às outras. Parece que, como noticia o Público, começa a tomar corpo a possibilidade de demonstrar empiricamente a sua existência. Os mais recentes indícios provêm dos EUA, do acelerador de partículas Tevatron. O que me interessa na notícia, mais que o indício da existência da partícula de Deus, é a informação, que já não é nova, do encerramento em Setembro passado do Tevatron, por falta de verbas. 

O problema não está apenas no facto de a investigação pura, sem fins comerciais aparentes, poder ser demasiado cara. Está no desinteresse que este tipo de investigação pode ter aos olhos do poder político e de outras entidades financiadoras. A crescente avaliação do saber pela sua rentabilidade económica pode vir a pôr em causa aquilo que se tornou o eixo central do Ocidente, o interesse pelo conhecimento teórico da realidade. Ora este interesse pelo conhecimento puro constitui uma das disposições essenciais da racionalidade humana. Não se trata de mera curiosidade ou uma ocupação para mentes brilhantes e ociosas. Neste tipo de investigação realiza-se ainda uma parte do destino humano. Financiá-lo de forma racional é um imperativo que deve sobrepor-se a outros imperativos de ordem meramente económica. Esta atitude americana, consubstanciada no fecho do Tevatron, é indício de quê? 


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