Um projecto holandês visa a produção de carne em laboratório a partir de células estaminais de um certo animal. O artigo do Público descreve os possíveis benefícios: diminuir as terras ocupadas pela agricultura, diminuir o abate de animais, diminuir as emissões de gás metano para a atmosfera, controlar laboratorialmente a carne produzida para que ele apresente determinadas qualidades benéficas para a saúde. O projecto está ainda em fase embrionária, embora já tenham sido produzidos pequenos pedaços de músculo.
Pode-se questionar a qualidade do sabor da carne assim produzida ou o significado metafísico deste processo de engenharia genética. Tudo isso pode ser interessante, mas há algo que é menos visível e que talvez seja mais pertinente pensar. Está ligado à relação dos processos científicos ou técnico-científicos com a ordem social e política. Talvez o essencial seja perceber o carácter puramente mitológico da autonomia das esferas da ciência e da política. Cada novo território que o acto de descoberta científica - e de invenção técnico-científica - traz é um território que, em última análise, vai ficar sob a jurisdição da regulação política (ou da ausência dessa regulação, o que não deixa de ser um acto político). Os actos científicos são, por essência e ao rasgar novos territórios para a regulação política, actos políticos.
Há contudo uma outra questão que é interessante e pouco pensada, apesar de aparentemente conhecida. O impacto da ciência sobre a sociedade e o poder. Se lermos os comentadores políticos, nunca é pensado, quando se reflecte sobre o o poder e as suas mutações, o papel da ciência e das técnicas dela derivadas sobre o próprio poder. Mas imaginemos que este projecto holandês tem sucesso científico e técnico e, posteriormente, valor industrial. A reconfiguração da gestão da população torna-se de imediato necessária. O próprio poder é confrontado e condicionado pelo novo dado proveniente da ciência. O que cabe compreender é como a própria ciência acaba por transformar as problemáticas do poder. Um outro passo, porém, é ainda mais importante. Como é que o impacto da ciência transforma as tecnologias do poder, para falar à maneira de Michel Foucault.
Há contudo uma outra questão que é interessante e pouco pensada, apesar de aparentemente conhecida. O impacto da ciência sobre a sociedade e o poder. Se lermos os comentadores políticos, nunca é pensado, quando se reflecte sobre o o poder e as suas mutações, o papel da ciência e das técnicas dela derivadas sobre o próprio poder. Mas imaginemos que este projecto holandês tem sucesso científico e técnico e, posteriormente, valor industrial. A reconfiguração da gestão da população torna-se de imediato necessária. O próprio poder é confrontado e condicionado pelo novo dado proveniente da ciência. O que cabe compreender é como a própria ciência acaba por transformar as problemáticas do poder. Um outro passo, porém, é ainda mais importante. Como é que o impacto da ciência transforma as tecnologias do poder, para falar à maneira de Michel Foucault.
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