Nas sociedades tradicionais, a vida política possuía, na religião, uma espécie de ponto de fuga. Este ponto de fuga tinha duas funções. Por um lado, retirava as comunidades da pura imanência, do fecho sobre si mesmas. Por outro, constituía, devido à profundidade aberta para o alto, para o absoluto ou para o divino, a fonte de legitimidade política. Se se tomar em consideração a cidade-estado grega, o culto religioso tem um papel central na vida da cidade, e religa a comunidade às potências divinas que gerem o cosmos.
O que marca a Modernidade é um processo de fechamento da comunidade em si mesma. O processo de fechamento à transcendência terá sido iniciado no Renascimento. O absolutismo é um passo decisivo que, de certa maneira, prepara os regimes constitucionais. A transcendência é convertida em pura imanência, a comunidade política justifica-se a si mesma, e a fonte da legitimidade passa a residir, primeiro no monarca absoluto, depois no povo. O ponto de fuga que existia desapareceu. A abertura para o infinito passou a não ter sentido, a questão da transcendência passou a ser um assunto do foro íntimo de cada um.
No entanto, estamos a descobrir uma outra realidade. Um novo ponto de fuga está a emergir com o actual desenvolvimento da economia global. Este já não abre para o alto, para o absoluto, mas para as flutuações e humores do mercado global. A ilusão moderna da possibilidade de comunidades puramente imanentes, sem referência a uma instância superior de legitimação, mostrou-se na sua falsidade. A imanência republicana (mesmo a dos regimes monárquicos constitucionais) dá lugar a uma nova transcendência. O mercado global constitui o novo ponto de fuga que legitima e justifica as opções políticas. A casta sacerdotal, que mediava a relação da comunidade com o sagrado transcendente, foi substituída pela casta dos economistas pagos pela nova divindade, que assumem tanto o papel de pregadores evangélicos como de gestores dos interesses do novo deus.
Como Deus, o mercado está em toda a parte e cuida de nós. Isto significa não tanto o amor misericordioso, mas a prática de um pai tirânico que pune qualquer relutância relativamente à sua virtude e bondade. Por isso, o povo deixou de ser a fonte de legitimidade do poder político, como o demonstram os casos da Grécia e de Itália. As comunidades podem escolher os seus governantes desde que estes se submetam à vontade inefável e infalível do mercado global. Qualquer esboço de revolta contra esta nova transcendência é severamente punida. Em princípio, pelo corte de financiamento ou pela substituição de governantes (agora não mais que curadores dos interesses do mercado). Em caso extremo, pela intervenção militar.
Se a transcendência religiosa abria o destino dos homens para a possibilidade de um paraíso extra-terreno, a nova transcendência promete, e cumpre, um inferno à medida dos desejos de cada um. O novo ponto de fuga não é para o alto, mas para baixo, cada vez mais baixo, infinitamente mais baixo.
O que marca a Modernidade é um processo de fechamento da comunidade em si mesma. O processo de fechamento à transcendência terá sido iniciado no Renascimento. O absolutismo é um passo decisivo que, de certa maneira, prepara os regimes constitucionais. A transcendência é convertida em pura imanência, a comunidade política justifica-se a si mesma, e a fonte da legitimidade passa a residir, primeiro no monarca absoluto, depois no povo. O ponto de fuga que existia desapareceu. A abertura para o infinito passou a não ter sentido, a questão da transcendência passou a ser um assunto do foro íntimo de cada um.
No entanto, estamos a descobrir uma outra realidade. Um novo ponto de fuga está a emergir com o actual desenvolvimento da economia global. Este já não abre para o alto, para o absoluto, mas para as flutuações e humores do mercado global. A ilusão moderna da possibilidade de comunidades puramente imanentes, sem referência a uma instância superior de legitimação, mostrou-se na sua falsidade. A imanência republicana (mesmo a dos regimes monárquicos constitucionais) dá lugar a uma nova transcendência. O mercado global constitui o novo ponto de fuga que legitima e justifica as opções políticas. A casta sacerdotal, que mediava a relação da comunidade com o sagrado transcendente, foi substituída pela casta dos economistas pagos pela nova divindade, que assumem tanto o papel de pregadores evangélicos como de gestores dos interesses do novo deus.
Como Deus, o mercado está em toda a parte e cuida de nós. Isto significa não tanto o amor misericordioso, mas a prática de um pai tirânico que pune qualquer relutância relativamente à sua virtude e bondade. Por isso, o povo deixou de ser a fonte de legitimidade do poder político, como o demonstram os casos da Grécia e de Itália. As comunidades podem escolher os seus governantes desde que estes se submetam à vontade inefável e infalível do mercado global. Qualquer esboço de revolta contra esta nova transcendência é severamente punida. Em princípio, pelo corte de financiamento ou pela substituição de governantes (agora não mais que curadores dos interesses do mercado). Em caso extremo, pela intervenção militar.
Se a transcendência religiosa abria o destino dos homens para a possibilidade de um paraíso extra-terreno, a nova transcendência promete, e cumpre, um inferno à medida dos desejos de cada um. O novo ponto de fuga não é para o alto, mas para baixo, cada vez mais baixo, infinitamente mais baixo.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.