(imagem daqui)
O filósofo britânico David Hume (séc. XVIII) defendia que não
podíamos justificar racionalmente a crença no princípio de causalidade (a ideia
de que existe uma relação necessária entre dois fenómenos, um com a função de
causa outro com a de efeito). Esse princípio não tem uma natureza objectiva,
mas é o produto de um hábito, a emanação do desejo humano de que o futuro seja previsível e
controlável. O primeiro-ministro italiano, Mario Monti, teve a insólita
desfaçatez de dizer que um emprego para toda a vida não existe e é monótono. Caiu
o Carmo e a Trindade, mas todas as críticas que sofreu são apenas palavras
oportunistas. As elites políticas e económicas globais estão de acordo com
Monti. A economia olha para as pessoas como algo que se usa e, rapidamente, se
despeja para a rua. Chama-se a isso flexibilidade do trabalho.
Isto revela uma clivagem essencial entre a economia de mercado e a
natureza humana. O ser humano necessita, para que possa levar uma vida
minimamente digna de ser denominada de humana, de possuir um futuro previsível
e controlável. O desenvolvimento das sociedades, ao longo da história da
humanidade, centrou-se na criação de condições de previsibilidade da vida e de controlo
do futuro. Também, em dado momento da história do capitalismo, as empresas
funcionaram como o horizonte que fornecia princípios de estabilidade e de
previsibilidade aos seus funcionários. Os desenvolvimentos recentes do
capitalismo, porém, conduziram a uma nova situação, na qual todo o trabalho é
precário, nada é previsível e onde não há qualquer controlo sobre o futuro.
Aquilo que foi uma estrutura antropológica essencial no desenvolvimento da civilização – de qualquer civilização, note-se – morreu. Os mecanismos de estabilidade e de segurança, tão necessários à humanização dos seres humanos, estão a ser destruídos velozmente pela economia de mercado. O fim da segurança, da estabilidade e da previsibilidade significa um retrocesso civilizacional, um retorno aos tempos onde o homem vivia no terror de ser presa de animais mais fortes. O que está em jogo com a intensificação da precariedade do trabalho e da insegurança das pessoas não é apenas uma injustiça social, é a própria natureza humana que está a ser dissolvida. Estamos perante um atentado à humanidade do homem, ao seu núcleo essencial, no qual se inscreve a necessidade maximizar o controlo do futuro para que a segurança permita a cada um desenvolver todas as suas potencialidades.
Aquilo que foi uma estrutura antropológica essencial no desenvolvimento da civilização – de qualquer civilização, note-se – morreu. Os mecanismos de estabilidade e de segurança, tão necessários à humanização dos seres humanos, estão a ser destruídos velozmente pela economia de mercado. O fim da segurança, da estabilidade e da previsibilidade significa um retrocesso civilizacional, um retorno aos tempos onde o homem vivia no terror de ser presa de animais mais fortes. O que está em jogo com a intensificação da precariedade do trabalho e da insegurança das pessoas não é apenas uma injustiça social, é a própria natureza humana que está a ser dissolvida. Estamos perante um atentado à humanidade do homem, ao seu núcleo essencial, no qual se inscreve a necessidade maximizar o controlo do futuro para que a segurança permita a cada um desenvolver todas as suas potencialidades.
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