Em Elogio da Sombra, de Junichirō Tanizaki, um ensaio de 1933 (de que espero falar aqui um dia destes), referia que o que diferenciava o Oriente do Ocidente era a questão da sombra e da luz. Os ocidentais estão sempre preocupados com a luz, com o acto de iluminar e de eliminar a sombra, enquanto os orientais, nomeadamente os japoneses, acentuam a dimensão de sombra, de velamento em que vivem. Isto vem a propósito desta notícia do Público, que nos explica, a partir de um estudo da Microsoft, que um perfil do Facebook pode dizer mais aos empregadores do que um entrevista. O iluminismo enraizou-se de tal maneira no mundo ocidental que não há recanto que não seja iluminado. Não é que os orientais não usem o Facebook. A questão está em que ele foi inventado por ocidentais e não por orientais.
As entrevistas para obtenção de emprego são prolongamentos do iluminismo, onde o entrevistador tenta lançar luz (a luz de uma razão calculadora) sobre o carácter do entrevistado. A notícia, porém, permite perceber outra coisa para além da superior eficácio do perfil do Facebook relativamente às entrevistas tradicionais. Permite compreender que todos nós, ocidentais, de alguma forma nos oferecemos à luz. A sombra, mesmo a nossa própria sombra, repugna-nos. O Facebook, rede social que uso, é uma forma de me dar à luz, sem nunca ter pensado muito no assunto. Prestar-se a ser iluminado é uma pulsão tão forte, num ocidental, como iluminar os outros e o mundo que nos rodeia. É evidente que fica por pensar o verdadeiro significado desta nossa propensão para a luz, bem como o temor da sombra.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.